Professora da UFRN quer “transportar” ponte da Redinha para evento internacional

Transportar uma ponte de um local para outro parece ser uma tarefa praticamente impossível, mas não para a professora do Departamento de Artes da UFRN (DEART) Jéssica Bittencourt, que topou o desafio de recriar um pedaço da ponte Newton Navarro na 13ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. Para apresentar seu trabalho Pilares Vivos, no qual retrata com fotografias a vida de pessoas em situação de vulnerabilidade social que residem nos pilares da ponte, a artista construirá uma estrutura simulando uma das colunas que visitou no bairro da Redinha, inclusive com as mesmas proporções, na exposição que ocorrerá entre os dias 27 de maio e 17 de julho.

Para tornar esse desafio realidade, Jéssica iniciou uma vaquinha online para aqueles que puderem contribuir, com o intuito de reproduzir o pilar, que será feito de madeira, montado no local da exposição. A estrutura contará com fotografias, depoimentos dos moradores em formato de áudio, além da iluminação simulando as condições reais das casas improvisadas nos pilares. “Não é só uma mostra fotográfica, mas também uma experiência sensorial”, afirma a potiguar.

Cada visitante receberá uma lanterna, visto que o interior da estrutura montada permanecerá sem luz alguma, recriando a escuridão dos pilares de concreto, juntamente com a gravação de ruídos dos carros que transitam pela ponte. Do lado de fora, fotos em preto e branco retratando o cotidiano das pessoas que residem e trabalham na Redinha também serão expostas, criando um contraste com as fotografias coloridas do interior.

O projeto nasceu em 2011, durante pesquisa sobre o bairro da Redinha, após a arquiteta perceber que os pilares da ponte possuíam aberturas, revelando que, dentro deles, existiam lares improvisados. “A turma foi dividida em vários grupos e o meu ficou com o pilar da Newton Navarro. Ali, enxergamos que o pilar era oco”, conta a fotógrafa. Em 2018, quando se aproximou das artes visuais, Jéssica decidiu retomar a pesquisa, indo até o local e registrando as condições das pessoas que moram abaixo da pista. Atualmente, as fotografias estão disponíveis para visitação na Pinacoteca do estado do Rio Grande do Norte.

Jéssica ainda destaca a importância social do trabalho desenvolvido. Para ela é importante discutir sobre as cidades contemporâneas. “A gente observa esse tipo de ocupação não somente em Natal. Em todo lugar existe esse tipo de desigualdade e é muito importante que nós, que usamos a cidade todos os dias, não fiquemos inertes quanto a isso.”

A exposição, que já foi reproduzida outras três vezes na capital potiguar, foi projetada para ser acessível para todos que a frequentarem. “Sinto muito orgulho de representar o estado. Foi algo muito inesperado, pois a seleção [para a Bienal] é muito concorrida. Levar o nome da UFRN é muito gratificante, visto que minha formação acadêmica toda foi construída na universidade”, conclui.