Quando a Verdade Vira Areia Movediça na engorda de Ponta Negra

Natal assiste, mais uma vez, ao espetáculo deprimente do poder tentando apagar suas próprias pegadas. A cena é clássica: uma jornalista experiente, Thaisa Galvão, registra a fala do prefeito de Natal, Paulinho Freire — testemunhada pela vereadora do PT, Samanda Alves — sobre a contratação de um “estudo isento” para avaliar os problemas na engorda de Ponta Negra. Dois dias depois, o secretário Thiago Mesquita surge, como um mágico de gabinete, para fazer a declaração desaparecer: “Não foi bem isso que ele quis dizer”. E assim, no dia do Jornalista, somos presenteados com a mais velha das artimanhas políticas: a verdade que escorre entre os dedos, como a areia molhada da orla.

É curioso como, em pleno 2025, ainda precisamos discutir o óbvio. Thaisa Galvão não é uma jornalista qualquer — é uma profissional com história, cuja credibilidade foi construída palavra por palavra, reportagem após reportagem. Se ela diz que o prefeito falou em estudo independente, é porque ele falou. Ponto. A vereadora Samanda Alves ouviu a mesma coisa. Mas eis que surge uma narrativa para transformar uma declaração clara em um “mal-entendido”. Mas isso, só expõe o desespero de quem tem medo que a luz chegue onde não deve.

O projeto da engorda de Ponta Negra já nasceu sob suspeita. A areia que não infiltra, os alagamentos que persistem, a água parada que vira criadouro de mosquitos — tudo isso grita por transparência. Um estudo isento seria a chance de a prefeitura provar que está certo. Mas, ao invés disso, opta-se pelo teatro do “não há dúvidas”, como se fechar os olhos resolvesse o problema. Se a obra é tão impecável, por que o pânico diante de uma análise independente? Ou será que, no fundo, o medo não é do estudo, mas do que ele pode revelar?

No meio desse circo, há uma ironia cruel. O dia 7 de abril, que deveria celebrar o jornalismo, virou o momento em que um se tenta desqualificar uma jornalista apenas porque ela ousou registrar o que ouviu.

Ao prefeito Paulinho Freire, resta uma escolha simples. Ou assume sua palavra e contrata o estudo — provando que não teme a verdade — ou enterra o assunto e e fica com esse problema criado na gestão de Álvaro Dias como sendo seu. Quanto a Thaisa, minha respeitável colega, segue de cabeça erguida. Afinal, no fim do dia, a única coisa que afunda mesmo em Ponta Negra não é a areia — é a credibilidade de quem acha que pode esconder o que todo mundo vê.