Quem são os agostinianos, ordem à qual pertence o novo papa

O novo papa escolhido nesta quinta-feira (8/5), papa Leão 14, é o primeiro papa agostiniano a comandar a Igreja Católica. Como fica claro pelo nome, a ordem segue a linha de pensamento de Santo Agostinho. Seus membros são denominados frades agostinianos ou agostinhos.

No século XI, essa ordem religiosa foi a primeira da Igreja Católica Romana a combinar a posição clerical com uma vida comunitária plena. A ênfase moderna tem sido na missão, na educação e no trabalho hospitalar. A vida em comunidade é central para os agostinianos, assim como a partilha e a fraternidade. Essa linha de pensamento também valoriza o estudo e pensamento crítico, que, assim como Santo Agostinho, acredita que fé e razão caminham juntas. Assim, é comum que os agostinianos atuem em universidades e escolas, além de causas sociais.

Trilhando esse caminho, Robert Prevost, o novo papa, tinha 30 anos quando se mudou para o Peru como parte de uma missão agostiniana, que engloba a evangelização, a promoção humana, a educação e o seguimento de Jesus Cristo, vivenciando o carisma agostiniano.

A Ordem de Santo Agostinho é uma das ordens medicantes da Igreja Católica, organizações que existem até hoje. Entre as mais famosas estão também os franciscanos e os dominicanos.

As ordens medicantes surgiram na Idade Média em contraponto às ordens monásticas. Partiam da ideia de que não fazia mais sentido o religioso enclausurado, em um mosteiro distante no alto de uma montanha. Nesse sentido, a Igreja não deveria se esconder dos problemas do mundo, mas sim ir de encontro a eles.

Quem foi Santo Agostinho?

Filho de mãe católica — depois tornada Santa Mônica — e de pai pagão, Patrício, que só se converteria ao cristianismo no leito de morte, Aurélio Agostinho de Hipona (354-430) nasceu em Tagaste, onde hoje fica a cidade de Souk Ahras, na Argélia.

Sua vida foi cheia de prazeres mundanos até se converter ao cristianismo e se tornar um grande filósofo e teólogo.

Na infância, foi educado em latim e, aos 11 anos, acabou levado a uma escola a cerca de 30 quilômetros de sua cidade Natal, onde aprendeu literatura e costumes próprios da civilização romana. Ali teve acesso a obras clássicas da filosofia, tendo contato com autores como Marco Tulio Cícero (106 a.C. – 43 a.C), depois creditado pelo próprio Agostinho como o responsável por despertar nele o interesse pela temática.

Aos 17 anos, Agostinho foi embora para Cartago, onde hoje fica a Tunísia, para estudar retórica. Criado dentro dos princípios cristãos, por conta da educação materna, foi ali que ele acabou assumindo posturas contraditórias à fé.

Abraçou o maniqueísmo como doutrina e, na companhia de outros jovens, passou a viver no espírito hedonista. Seu grupo se vangloriava de colecionar experiências sexuais, enumerando aventuras tanto com mulheres quanto com homens.

Agostinho envolveu-se com uma jovem local, mas, ao contrário do que era esperado pela sociedade, decidiu não se casar com ela. Viveram como amantes e tiveram um filho, Adeodato — sobre o qual pouco se sabe além do fato de que ele teria morrido ainda jovem.

Sua adesão à fé só ocorreu por volta dos 30 anos. Conforme seu próprio relato, ele ficou impressionado quanto tomou contato com a história da vida de Santo Antão do Deserto (251-356), um ermitão que acabaria conhecido como “pai de todos os monges”. E, nesse transe, teria ouvido uma voz infantil dizendo “toma, lê”. Agostinho interpretou como uma ordem: ele deveria pegar a Bíblia e ler o primeiro trecho que encontrasse.

Caiu justamente num trecho da carta de São Paulo aos Romanos, no qual o apóstolo falava sobre como as sagradas escrituras teriam o poder de transformar o comportamento dos seres humanos.

“Comportemo-nos com decência, como quem age à luz do dia, não em orgias e bebedeiras, não em imoralidades sexuais e depravações, não em desavenças e inveja. Ao contrário, revistam-se do Senhor Jesus Cristo e não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne”, conclama a passagem.

Ele entendeu o recado como algo para si. Na Páscoa de 387, foi batizado pelo bispo de Mediolano, Aurélio Ambrósio (340-397). No ano seguinte, na companhia da mãe e do filho, decidiu voltar para a África.

Mônica, contudo, morreu antes ainda de embarcar. Adeodato morreria pouco tempo depois do retorno. Desgostoso diante das desgraças familiares, Agostinho decidiu vender todo o patrimônio e doar o dinheiro aos pobres.

Manteve apenas sua casa, convertida em um mosteiro.

Em 391, foi ordenado sacerdote, em Hipona, na mesma província da Numídia. Então, o convertido Agostinho permitiu-se utilizar de toda a sua erudição a favor do cristianismo. Logo se tornaria um grande pregador e um grande estudioso teórico das bases da religião.

Poucos anos depois, ainda no fim do século 4, acabaria nomeado bispo de Hipona. Até o fim da vida, ele se dedicou às pregações, aos estudos e aos escritos, sempre mantendo um estilo frugal e ascético. De acordo com relatos de um bispo que foi seu contemporâneo, Possídio, ele havia se tornado um comem que comia pouco, trabalhava muito, não gostava de conversas sobre a vida dos outros e era um hábil administrador financeiro das obras de sua comunidade.

Fonte: BBC Brasil