Segundo turno consolida derrota de Bolsonaro e PT

Se no primeiro turno das eleições municipais o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi considerado dos grandes derrotados, neste segundo turno, a esquerda foi quem não obteve resultados expressivos. O maior partido do campo político, o PT, venceu apenas 4 das 15 disputas em que participava. O Psol elegeu apenas o ex-prefeito pelo PT Edmilson Rodrigues, em Belém, mas perdeu por quase 20 pontos percentuais a capital paulista para o tucano Bruno Covas. O partido do ex-presidente Lula, pela primeira vez desde 1985, não leva uma capital. Perdeu em Vitória e no Recife neste domingo (29/11). Das 15 disputas deste domingo, levou apenas por pequena margem Diadema (SP), Mauá (SP), Contagem (MG) e Juiz de Fora (MG).

Já o presidente Jair Bolsonaro viu o fortalecimento do governador João Doria (SP), seu atual desafeto, tendo o PSDB ficado com quase metade dos votos do eleitorado do estado mais populoso do país. Seu aliado Celso Russomanno (Republicanos) ficou em quarto lugar no primeiro turno. No Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos) teve pouco menos de 36% dos votos válidos diante de Eduardo Paes (DEM) 

Segundo o cientista político e professor da FGV Sérgio Praça, Bolsonaro se caracterizou ao longo de sua trajetória política como um outsider. “Nunca foi tradição do ex-deputado fidelidade partidária ou grande afinco por eleições majoritárias, a não ser a que ele disputou em 2018. Creio que sua situação não é tão desconfortável para uma tentativa de reeleição em 2022. Vai depender da fragmentação dos rivais. Vejo o campo da esquerda em situação mais delicada.” Em duas capitais nordestinas, siglas mais à esquerda obtiveram importantes vitórias. Na capital cearense, uma ampla aliança entre PDT, família Gomes, PT, entre outros, garantiu a eleição de José Sarto. Mas o triunfo em Fortaleza não foi tranquilo sobre Capitão Wagner, que obteve pouco mais de 48% dos votos.

No Recife, o clã Arraes fez um segundo turno tenso, de agressões verbais, e o filho do ex-governador Eduardo Campos (PSB), morto em 2014, tornou-se o mais jovem prefeito de capital do país, ao bater a prima Marília Arraes (PT). João Campos, 27, obteve pouco mais de 56% dos votos válidos. As mulheres, aliás, tiveram pouco brilho nesta eleição. Apenas Palmas (TO) reelegeu Cinthia Ribeiro (PSDB). A vice na chapa de Fernando Haddad (PT) nas últimas eleições presidenciais, Manuela d’Ávila (PC do B), acabou derrotada por Sebastião Melo na disputa pela Prefeitura de Porto Alegre.

O cientista político Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria, por outro lado, não considera o resultado um fracasso total do campo da esquerda. “Guilherme Boulos (Psol) ir ao segundo turno na capital paulista foi um fortalecimento, uma novidade. Mas o grau dessa competitividade em 2022 vai depender basicamente de dois fatores: o desempenho do governo Bolsonaro nos dois últimos anos de mandato e o grau de coordenação da oposição em diferentes estados, num momento em que a lei eleitoral vetou a coligação dos cargos majoritárias com os legislativos.”

Cortez também não viu uma vitória da “moderação” sobre o “radicalismo”. “A eleição municipal de 2020 foi basicamente a manutenção do status quo, não necessariamente de esquerda ou direita, mas em geral de nomes que davam sinal de continuidade.”

A disputa deste domingo em 18 capitais foi de poucas surpresas, com a virada de candidatos que estavam em segundo lugar e acabaram vencendo a eleição apenas em Manaus, com David Almeida (Avante), Cuiabá, com a reeleição do atual prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), e JHC (PSB), que ficara em segundo no primeiro turno em Maceió, por diferença de pouco mais de mil votos. No saldo de primeiro e de segundo turno, o MDB levou cinco capitais e o DEM e PSDB, quatro cada um.

Abstenção

O país registrou 29,5% de abstenções no segundo turno das eleições neste domingo, o maior índice desde 1996. Houve aumento consecutivo de abstenções no segundo turno das eleições municipais desde os anos 2000. O ranking de ausências é liderado pelo pleito atual, seguido por 2016 (21,6%) e com 1996 na terceira posição (19,4%). Já em 2012, o índice foi de 19,1%. Na capital paulista, a taxa de abstenções foi de 30,81% neste ano.

Fonte: Estadão