Tem queimadas, pandemia, negacionismo, desastres naturais, milhares de mortes, crise no mundo. 2020 tem sido um ano daqueles de tão pesado e quando você pensa que já viu de tudo… o ano surpreende. Hoje, 23, um deputado potiguar e médico que cuida dos olhos conseguiu enxergar que os heterossexuais precisam de um dia de visibilidade. Tá achando engraçado? Não ache. É sério. O deputado Albert Dickson (PROS) apresentou um projeto de lei que institui o Dia Estadual da Visibilidade Heterossexual no Estado do Rio Grande do Norte, a ser celebrado, anualmente, no dia 30 de agosto, conforme noticiamos AQUI.
Talvez seja uma reposta ou provocação ao PL da deputada estadual Isolda Dantas (PT) e sancionado pela governadora Fátima Bezerra (PT) recentemente, que criou o Dia da Visibilidade Lésbica considerando a data de 29 de agosto. Tá claro que a data comemorada um dia depois é uma provocação. Uma briga paroquiana que tem repercussão muito maior do que imagina o parlamentar. Na defesa do seu projeto, Isolda elenca uma realidade social. “Lésbicas enfrentam preconceito e violência de toda ordem por sua condição sexual”. Mas eu me pergunto, e perguntei ao deputado que não respondeu até o momento, se ele conhece algum heterossexual que sofreu preconceito, violência ou tenha perdido a vida por ser hetero.
Talvez o parlamentar desconheça que o Brasil é um dos países que mais mata LGBTQIA+ do mundo. De acordo com um relatório divulgado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), que a mais de 100 anos atua em defesa dos direitos humanos dos homossexuais no Brasil, o país se mantém no ranking dos que mais contabiliza mortes de LGBT+. No ano de 2019, foram registrados no país 329 mortes violentas, sendo 297 homicídios e 32 suicídios. Em 2018 foram registrados 420 casos e em 2017, 445 mortes. Apesar da queda em 2019, as mortes de LGBT+ aumentaram se comparado às décadas anteriores, em 2000, por exemplo, foram 130 homicídios. Desde que o estudo começou a ser feito, no ano 2000, pelo GGB foram 4,809 mortos no Brasil. É assustador. Mas consideremos que o deputado desconheça isso e nos atentamos a observar a Constituição Brasileira que assegura a preservação de direitos humanos e defesa de minorias. Por isso, também perguntei a ele, sendo assim, se não seria justo instituir o dia da visibilidade do branco, já que temos o dia da visibilidade da pessoa negra. Continuei sem resposta.
Quero deixar registrado que tenho enorme estima por Dickson e sua história de vida e também como homem público. Porém, isso não me dá o direito de me calar diante de tal absurdo. Por acaso eu sou gay. Por acaso sou negro. Mas não é preciso ser ou pertencer a grupo para ter empatia pelas pessoas. Somos todos humanos. Todos iguais e pecadores diante do julgamento de Deus. Todos. E trago a questão religiosa porque foi exatamente esse o principal argumento do deputado para justificar seu projeto. “Somente lembrando que a heterossexualidade tem origem na Bíblia sagrada no livro do Gênesis. E a ciência tem sido clara de que a perpetuação da espécie humana só ocorre por essa opção predominante entre os sexos opostos. Ainda que pouco Institui no Calendário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte o Dia Estadual da Visibilidade Heterossexual. lembrada e a mais atacada quando se fala em transtornos familiares e violência doméstica. Valorizar o papel do homem e da mulher na família como perpetuadores da espécie humana é nosso objetivo com esse projeto.” Finalizou Albert.