As variações de temperatura entre as cinco regiões brasileiras afetam a eficiência do piriproxifeno no controle de larvas de Aedes aegypti, mosquito transmissor do vírus da dengue, zika e chikungunya. A conclusão é apresentada em pesquisa da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, que, a partir de simulações em laboratório, observou uma menor mortalidade em temperaturas maiores, mesmo com o aumento da concentração do inseticida, aplicado principalmente em criadouros que não podem ser destruídos (como caixas d’água), impedindo o desenvolvimento do mosquito adulto. O trabalho indica a necessidade de monitorar a eficiência do controle químico nos programas de prevenção do aumento da população do Aedes aegypti e das doenças causadas por vírus transmitidos pelo inseto.
“Sabemos que a temperatura é um fator muito determinante na biologia do mosquito e isso faz toda diferença na dinâmica de transmissão dos vírus que causam as doenças que tanto nos preocupam”, explica ao Jornal da USP a pesquisadora Lídia Moura, autora do trabalho. “Cabe destacar as populações que se tornam resistentes aos inseticidas aplicados para os fins de controle populacional, o que justifica a diversidade de compostos que existem atualmente. Um dos larvicidas desta variedade é o piriproxifeno, um análogo do hormônio juvenil que age no desenvolvimento imaturo e previne a emergência do mosquito adulto.”
No laboratório, foram simuladas as temperaturas máximas e mínimas padronizadas para cada região brasileira, a fim de se aproximar das flutuações diárias de temperatura, considerando os períodos entre a primavera e o verão. “Foram monitoradas as mortalidades das larvas em cada concentração nas temperaturas testadas. Aquelas larvas que sobreviveram ao composto piriproxifeno e tornaram-se adultos, foram observadas até a morte dos mosquitos para se avaliar a longevidade”, relata a pesquisadora. “Também analisamos o tamanho e a forma da asa, e as respostas de assimetria entre asas direitas e esquerdas de mosquitos machos e fêmeas.” Os testes foram realizados no Laboratório de Ecologia de Ambientes Aquáticos (LEAA) do Departamento de Engenharia Hidráulica e Saneamento da EESC.
Nas temperaturas para as regiões mais frias (Sul e Sudeste) as larvas do mosquito foram mais sensíveis e a eficiência do produto no controle foi alta em concentrações mais baixas. “Nas regiões cujas temperaturas são mais altas, Centro-Oeste e Norte, as larvas se desenvolveram mais rapidamente e houve mais mosquitos sobreviventes mesmo em concentrações mais altas do larvicida”, aponta Lídia Moura. “De forma comparativa, para se ter a mesma eficiência, ou seja, ao menos 50% das larvas mortas, é necessária a aplicação de concentração duas vezes maior nos ambientes em que a temperatura é mais quente.”