A Missão Espacial Gaia da Agência Espacial Europeia (ESA) descobriu um buraco negro de origem estelar adormecido na nossa galáxia, a Via Láctea, situado a 2 mil anos-luz da terra, com massa 33 vezes maior que a do Sol. O objeto astronômico, que recebeu o nome Gaia BH3, considerado adormecido ou dormente por emitir pouca ou nenhuma radiação, é muito maior do que os buracos negros encontrados anteriormente na Via Láctea, que tem, em média, 10 vezes a massa do Sol. A Missão Gaia usa um satélite com dois telescópios e um sistema especial de detecção para medir principalmente posição, movimento e distância de cerca de 2 bilhões de estrelas da nossa galáxia e outras vizinhas.
O anúncio é uma antecipação da próxima divulgação de dados da Missão Gaia, que também faz medições fotométricas e espectroscópicas, relacionadas ao brilho e a composição química das estrelas, prevista para o primeiro semestre de 2026. O estudo tem a participação de pesquisadores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.
Buraco negro adormecido
O professor do IAG Ramachrisna Teixeira, que integra o grupo de colaboradores da Missão Gaia, explica que buracos negros são corpos tão densos que sua gravidade é intensa a ponto de impedir que a própria luz, com sua velocidade inimaginável, consiga deixá-lo. Alguns deles resultam do colapso de uma estrela muito massiva no final de sua vida e normalmente são acompanhados por radiações originárias da matéria de estrelas próximas, aceleradas em direção ao centro do buraco negro.
Os buracos negros estelares são bem menores e mais jovens do que os buracos negros supermassivos presentes no centro das galáxias (como o Sagitário A*, “fotografado” no centro da Via Láctea). Estes últimos geralmente surgem após a formação de suas galáxias, e podem ter milhões – e até bilhões – de vezes a massa do Sol.
Teixeira ressalta que buracos negros estelares costumam ser mais simples de serem encontrados, pois a radiação emitida denuncia sua existência. No entanto, o buraco negro adormecido ou dormente não tem uma estrela companheira por perto que o alimente, assim, não existe nenhuma ou pouca radiação que o acompanha e, portanto, é mais difícil de ser encontrado. Eles são encontrados através de ondas gravitacionais, como tem acontecido com buracos negros em outras galáxias e agora, investigando o movimento de estrelas em nossa galáxia graças à astrometria Gaia.
A descoberta do Gaia BH3 aconteceu durante o processo de validação dos dados do satélite pelo Gaia Data Processing and Analysis Consortium (Gaia DPAC). Segundo o professor do IAG, o grupo responsável por examinar os movimentos de milhões de estrelas se deparou com algo anomal, diferente do esperado.
Ao ser investigado mais de perto, os cientistas verificaram tratar-se de um buraco negro dormente ou adormecido, de origem estelar, na nossa galáxia, com uma massa bastante grande, 33 vezes a massa do Sol. Os demais buracos negros de origem estelar encontrados na Via Láctea têm em média 10 massas solares.
O Gaia BH3 é o terceiro buraco negro dormente (adormecido) excepcionalmente massivo descoberto na nossa galáxia, localizado a cerca de 2 mil anos-luz da Terra, todos encontrados a partir dos dados da missão Gaia. Teixeira aponta que a descoberta levanta uma questão sobre como surgem buracos negros de origem estelar com tamanha massa. A ideia é que à medida que envelhecem, as estrelas massivas perdem parte considerável de suas massas através de ventos fortes ou de explosões. O que resta do seu núcleo se contrai ainda mais e irá se tornar uma estrela de nêutrons ou um buraco negro, dependendo de sua massa.